PATAVINO

Memórias autorizadas de um estudante de Psicologia, Português, em "Erasmus" pelas italianas paragens de Pádua. | «Corsa lunga, grandi bugie», Provérbio italiano | «O mundo em que vivemos é como um livro. Quem nunca viajou, apenas leu uma página», Santo Agostinho

terça-feira, novembro 16, 2004

Stanza

Aos poucos, vou-me habituando ao quarto onde vivo. Depois de um mes sem ver a minha confortavel cama, a minha escrivaninha, as minhas paredes, sinto que esta habitaçao jà é tambem um lar. A ele sempre retorno depois de um dia cansativo de aulas ou de uma noite de festa. Vivo num bairro relativamente perto de uma das maiores praças da Europa, o Prato della Valle. A cama é minuscula, o colchao tambem nao é grande encomenda. Quando aqui entrei a primeira vez nao tive uma boa impressao. E como a angustiante procura por outro quarto se revelou infrutifera aqui acabei por ficar. Da janela podem ver-se arvores, quintais bem tratados, melros que poisam nos parapeitos. Um cenario outonal. Nao se ouvem ruidos de carros a passar e como é um bairro habitado por velhotes reformados e ricos que nunca devem estar em casa (devem andar a passear pelo mundo atraves da Inatel ca do sitio), o sossego impera .
Mudei a disposiçao dos moveis e da mesa, afixei a bandeira de Portugal na parede, o poster da minha visita ao Berlusconi, postais de Lisboa, fotografias da faculdade e dos escuteiros (aceito todo o tipo de material decorativo que quiserem enviar, humm, tudo menos aqueles bibelots de porcelana talvez).

Também comprei a meias um sistema de som com “subufero” e posso dizer meio que cantando que ha « sempre musica entre nos ». A decoraçao completa-se com a roupa que nao secou completamente na maquina de secar e que se encontra por cima do aquecedor ou pendurada no armario. Faço a limpeza uma vez por semana. Resumindo, o quarto esta limpo e arrumado, é grande (podem ca dormir 7 pessoas) e com o passar do tempo tornou-se minha casa. Posso dizer que ja estou automatizado uma vez que ja consigo chegar a cama e deitar-me na penumbra sem fazer o minimo ruido.

Depois deito-me, tapo os ouvidos e de repente, o aeroporto onde aterra constantemente um boeing 747 (metafora para a pratica ressonativa do meu companheiro de quarto) deixa de existir e vem a paz e o sono.Apesar de toda a bela adpataçao, existe sempre a saudade da minha alegre casinha, com a linha azul do mar ao longe no horizonte, e essa abertura para o mundo que so Portugal nos da. G.F.