PATAVINO

Memórias autorizadas de um estudante de Psicologia, Português, em "Erasmus" pelas italianas paragens de Pádua. | «Corsa lunga, grandi bugie», Provérbio italiano | «O mundo em que vivemos é como um livro. Quem nunca viajou, apenas leu uma página», Santo Agostinho

quinta-feira, outubro 07, 2004

morada

Vou agora jantar à residencia de uns portugueses, aproveitei para passar por um cyber cafe para dizer que tenho saudades vossas e que ja tenho telemovel italiano alem da morada:

Via Aosta n41 35142- Padova Italia.

quarta-feira, outubro 06, 2004

Io sono Gonçalo, di Portogallo.

“Io sono student de erasmus, cerco …” Assim me tenho apresentado aos patavinos quando tento desenrascar-me por esta urbe transalpina onde todos os dias me perco em média cinco ou seis vezes. Assim me desenrasquei para aceder hà 10 minutos atras à net, de borla, num gabinete exclusivo para estudantes trabalhadores.

Talvez se tenham perguntado porque demorei tanto tempo a dizer que continuo vivo e de boa saude. A verdade è que o tempo escasseia quando nos vimos sozinhos no mundo à procura de casa, de comida, das matriculas na faculdade, das ruas para chegar aos diferentes serviços. Sim o tempo escasseia principalmente por causa desta razao. Padova è uma cidade muito maior do que eu imaginava. Antes de ter comprado a bicleta roubada chegava a fazer cinco quilometros por dia (mesmo quando nao me perdia). Pois por isto, o estudante leva consigo um bem precioso: o mapa da cidade. Contudo cheguei aqui sem me perder. “Piano piano”, vou-me automatizzando a esta nova vida. A vida de um estudante de "Erasmus", a vida de um jovem portugues que provavelmente nunca esteve mais que 15 dias fora de casa.

Neste dia 6 de Outubro recupero finalmente alguma tranquilidade que me d+a o espaço e o tempo para a restrospectiva destes dias loucos. Nunca na minha vida conheci tantas pessoas em tao pouco tempo e tantas estorias, tantas gargalhadas, tantas diferentes formas de ver a vida. De facto pode-se conhecer aqui gente de todo o mundo. De todos os credos, de todos os cursos, de todos os continentes. Quero falar-vos destas pessoas, porque à medida que lhes roubo os seus guioes tambem me vou lembrando dos pequenos nadas que foram fazendo a minha vida na ultima semana.

Quando parti de aviao tentei fazer um esforço para nao chorar e virei costas nao sabendo que realidade encontrar pela frente. Nao tive tempo de escrever uma carta de despedida, de agradecer aos meus pais por me terem dado esta oportunidade unica na vida, à minha irma que acordou mais cedo para me ir levar ao aeroporto e aos meus amigos dos escuteiros e da faculdade que a estiveram provavelmente com uma directa em cima para me darem o ultimo adeus. A todos eles, aos que estiveram nos jantares de despedida, aos meus tios, primos, à minha avò, agradeço as palavras e os gestos, os conselhos, as piadas, os presentes e principalmente tudo o que aprendi com eles numa ou noutra altura da vida e que transportei comigo na minha bagagem mais importante que è a memoria emocional.
Parti por 6 meses com a sensaçao que levava tambem comigo muitos de voces. E partir assim, sozinho, é uma sensaçao unica. È uma mistura de plena liberdade mas tambem de receio pelo desconhecido. Parti de uma Lisboa que amanhecia, das sete colinas iluminadas, cidade ainda mais poema vista dos ceus. Atras de mim 2 portugueses que passaram a viagem a falar de banda desenhada, um pequeno almoço holandes esquesitissimo mas que devido à fome se tornou uma refeiçao divinal. Entao, a Holanda vista da janela do aviao. A Holanda, Amsterdao, para quem conhece o jogo de computador SimCity, é a sua versao real. Tudo esta arquitectonicamente organizado ao infimo promenor, as ruas, as casas, os campos. No aeroporto existem empregados sentados com uma esfregona à espera que alguem suje alguma coisa. No meio de toda a limpeza, deste asseio quase ao estilo do norte europeu psicotico, uma pequena nota: na porta da casa de banho onde reciclei a bela refeiçao holandesa, alguem escrevera “VIVA EL CHILE”. Sorri e nao sei porque senti um orgulho estupido, inexplicavel de ser tambem latino.

Aviao para Veneza sentado ao pe de um casal de meia idade americano do Novo Mexico. Recomendo a toda a gente ter uma longa conversa com americanos, sentir-se-ao extremamente inteligentes e cultos. Depois outros americanos de Miami no autocarro Venezia-Padova. Diziam que falavam um espanhol muito bom, mas eu quando os ouvia so me perguntava se nao seriam moldavos a tentar falar italiano. Paguei depois 7 euros pelo taxi, uns 5 minutos que andei. Para vos falar do estilo italiano e da moda apenas preciso de dizer uma coisa : o taxista tinha uma camisa dolce gabana e um sapatinho castanho da moda. Parece que aqui, segundo o argentino que vive no meu apartamento, toda a gente muda de guarda roupa de 2 em 2 meses. Contudo a mulher italiana tem deixado um pouco a desejar (opiniao geral masculina belga, portuguesa, espanhola, e sul italiana). Porem, as italianas bonitas que aqui passeiam ou estudam sao verdadeiramente belissimas, em qualquer parte do mundo. E facil apaixonarmos platonicamente umas 12 vezes por dia.
Foi na pousada da Juventude que confeci os primeiros estudantes de erasmus e tambem os primeiros portugueses. O Berto que estuda medicina em Tarragona, a Ana e a Daniela de Psicologia de Coimbra. Como agora tenho que ir telefonar aos pais pois deixei o telemovel em casa( que e na outra ponta da cidade) fico-me por estes poucos relatos. Em breve falar-vos-ei desse curioso personagem que parece o Nicholas Cage iraniano, do meu companheiro de quarto que ressona como um boieng 747 e tem uma orelha como o falecido Sousa Franco, do Vitorio que e lider de uma claque de CampoBasso, da invasao espanhola que reina na cidade, do polaco de medicina que faz capoeira e ate ja gravou um cd na Polonia com misturas com Polka, das pizzas medias a 3 euros, da mafia da bicicletta roubada, do israelita que comprou uma casa mas como ainda nao comprou cama dorme na pousada da juventude, da famosa Piazza d’el Erbe. Tenho 5 minutos para publicar isto. Peço desculpa pelos erros e pela sinalizaçao mas estes teclados nao conhecem o portugues. Porem, esta cidade ja vai conhecendo. O Gonzalo, de Lisbona. Ja nao tenho mais assunto para escrever, cumprimentos ao meu pessoal, um abraço deste que tanto vos quer, sou capaz de ir ai pelo natal. G.F.